"Um grupo de investigadores do Instituto Português de Oncologia (IPO) descobriu um novo mecanismo molecular de regulação da formação de novos vasos sanguíneos e cicatrização de feridas que poderá abrir caminho a novas estratégias terapêuticas.
Sérgio Dias e a sua equipa do Centro de Investigação e Patobiologia Molecular do IPO, em Lisboa, descobriram que, para formarem novos vasos, as células precursoras dos vasos sanguíneos são estimuladas através de uma proteína chamada Notch, presente nas células da medula óssea.
«Esse mecanismo de activação das células endoteliais dos vasos sanguíneos por parte das células da medula, tanto durante a cicatrização das feridas como durante o crescimento tumoral, poderá ter imenso impacto terapêutico», sublinhou Sérgio Dias à agência Lusa.
No que diz respeito às feridas, a activação de células medulares através da referida proteína antes de serem injectadas em ratinhos melhorou a cicatrização de forma significativa, segundo explicou o principal autor deste estudo, publicado na edição desta semana da revista científica norte-americana PLoS ONE.
«Isso indica que essas células poderão ser manipuladas antes da injecção, activando a via Notch e funcionando como catalizadores do processo de restauro vascular e posterior cicatrização das feridas», afirmou o investigador.
Nos tumores, o mecanismo pretendido será o oposto a este, e os investigadores querem perceber o que activa aquelas células da medula antes de serem recrutadas pelos tumores em crescimento, com o objectivo de tentar desenvolver mecanismos que bloqueiem a activação da «via Notch».
A formação de novos vasos sanguíneos desempenha um papel fundamental na cicatrização das feridas porque faz chegar proteínas anti-inflamatórias e nutrientes ao local da ferida, essenciais para a reconstrução do tecido danificado, segundo explicou esta equipa de investigadores, que é um grupo externo do Instituto Gulbenkian de Ciência.
As feridas crónicas da pele são comuns na obesidade mórbida e na diabetes, sendo mais relevante neste caso o chamado «pé diabético», que em casos extremos pode levar à sua amputação.
A proteína Notch tem a capacidade de mediar um sinal entre células vizinhas e induzir mudanças na actividade de genes. Desde que foi identificada, em 1919, em mutantes de moscas de vinagre que apresentavam entalhes («notch», em inglês) nas asas, esta proteína tem revelado um envolvimento importante em muitos processos de formação e manutenção de células, tecidos e órgãos.
Este estudo foi financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Crioestaminal.
Diário Digital / Lusa
Artigo original em: Diário Digital
Sem comentários:
Enviar um comentário