Transplante de medula curou seropositivo

"Um seropositivo recebeu um transplante de medula óssea e a carga viral ficou indetectável. O cientista português João Gonçalves, especialista em investigação retroviral, considera que se trata "mais da validação de uma estratégia do que de uma indicação terapêutica futura".

O caso ocorreu com um seropositivo norte-americano de 42 anos e residente em Berlim que é seropositivo há dez anos e recebeu um transplante de medula há 20 meses para tratar uma leucemia que entretanto contraiu.

O transplante foi facultado por um dador portador de uma mutação genética que elimina da superfície das células a proteína CCR5, ao qual o vírus da Sida (VIH) se liga para nelas entrar e aí proliferar.

Acresce que esta mutação é rara, visto estar presente em apenas um a três por cento da população europeia, e parece conferir aos seus detentores imunidade face ao VIH.

João Gonçalves, professor de Imunologia e Biotecnologia na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, salienta que este é ainda "só um caso, pelo que não se podem tirar grandes conclusões". Todavia, "valida em termos teóricos uma das estratégias que se pensa que poderá ter bons resultados em termos de terapia génica".

"É um avanço para o conhecimento de uma via, não para uma nova estratégia terapêutica", sublinhou, e isso porque "são muitas as variáveis para se institucionalizar uma terapêutica desse modo".

O investigador destaca a necessidade, não só de o dador ser compatível, e ter aquela rara mutação genética, como de a doença se encontrar num estadio ainda muito inicial.

"São estratégias que estão em estudo, numa fase ainda muito embrionária, e que têm por objectivo tornar as células das pessoas infectadas resistentes à entrada do vírus através da eliminação do CCR5", explicou. É como criar "uma armadilha para o vírus".

O que se faz, precisou, "é retirar as células da medula óssea dos doentes e aplicar uma técnica de terapia génica em que, através de um gene, se elimina o CCR5 das células, e depois voltam a meter as células dentro do paciente".

Quanto à possibilidade deste tipo de terapêutica ser aplicada em Portugal, João Gonçalves mostrou-se cauteloso. Apesar de já haver empresas a trabalhar nessa via, elas estão em países mais avançados como o Reino Unido, a França e a Alemanha, além de que essa terapêutica exige um nível de especialização muito grande a nível hospitalar que ainda não existe a nível nacional.

O paciente em causa foi tratado pela equipa do hematólogo berlinense Eckhard Thiel, e o caso mereceu esta semana repercussão na imprensa mundial depois de ter sido destacado pelo diário norte-americano “Wall Street Journal”, mas não foi ainda objecto de nenhuma publicação científica. "

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